sábado, 24 de janeiro de 2009

Quando inteligência era crime...Era?

"Para o médico italiano Cesare Lombroso, conceituado criminologista do século XIX, a mulher normal apresentaria algumas caracteristicas negativas que a aproximavam da criança, como um senso moral deficiente e a tendência exagerada à vingança e ao ciume. De maneira geral, esses defeitos seriam neutralizados pela maternidade, frieza sexual e inteligência menor. Mulheres dotadas de grande capacidade intelectual se revelariam as criminosas natas. Seriam incapazes da abnegação, paciência e altruismo que caracterizam a maternidade, função primordial que comandaria toda a organização biologica e psicologica da mulher.
Lombroso parecia insinuar que as moças honestas que procuravam acesso à instrução elevada poderiam incorrer em delito. "Tendo perdido ou quase a esperança de encontrar um ultimo recurso no casamento (pela habitual repugnância do homem vulgar pela mulher instruida), não lhe resta senão o suicidio, o delito ou a prostituição."


Cidadania do dottore? Tsc tsc.
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Porque cresce em mim cada vez mais esta aversão aos italianos?
Eu nunca tive a intenção de vir para cá (nem para conhecer) ainda mais viver com este povo preconceituoso, machista e ignorante.Há quem não seja, mas infelizmente não encontrei ainda...
Então, embora eu esteja feliz da vida com o Master e com todo o resto - porque eu consigo separar a minha experiência - me dá vontade de gritar quando vejo tanta coisa errada nas relações que se mostram na tv, na rua e na vida real...
O engraçado é que eles são preconceituosos com eles mesmos. Eu nunca sofri nenhum tipo de segregação (o nariz é meu salvador! hahaha)mas realmente tenho vontade de gritar quando estou no ônibus, metrô ou mercado e sinto o olhar das pessoas para com os de pele mas escura ou de escrachada cidadania diferente. Sim, porque a gente consegue saber quem é stranieri ou não, não com julgamento, mas porque eles são bem mais efusivos e mais simpáticos.
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Está sendo um grande laboratório de paciência humana. E para este tipo de sensação eu conto os dias sim. Conto os dias para que acabe isso, não o resto.
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E era isso por hoje porque eu estou indo para a Chinatown hoje. Me misturar a massa, respirar uns ares orientais para ver se tiro meu próprio mofo berlusconiano.
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Vale a pena: http://cartadaitalia.blogspot.com/2008/02/as-fronteiras-de-cada-um.html

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Tim Maia já sabia!

Ainda trago comigo os momentos daquele sábado no aero em PoA. Por alguns instantes eu quis voltar e não o fiz porque algo em meu corpo não respondia, e eram meus pés, porque a cabeça literalmente girava.
Lembrei disso tudo agora porque revi a minha agenda e lá, no início do ano constava assim: 6-365, 7-365...Eu contava os dias para que se acabassem, porque eu não me sentia feliz ainda e as saudades doíam de forma concreta mesmo.Hoje dei-me conta que eu estou vivendo eu e eu, aqui, e é só isso.
Esta constatação veio da forma mais bizarra possível: minha perna ficou presa na porta do metrô e eu blasfemei em italiano. Naquele momento, então rindo, eu vi que não sou mais turista aqui, eu moro aqui, eu sou e estou aqui e agora, vivendo como uma mulher milanesa. A conta no banco, identidade, endereço, fone para contato não são mais escritos em português e eu já posso escutar a Ipanema sem chorar de saudade...
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Mas não, eu não estou dizendo com isso que está bom. Hahaha. Tem muito chão pela frente ainda...
Mas o pior realmente ficou lá no início daquela solidão glacial.
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Quem acha que não é glacial que venha provar.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

a música tema mudou...

I was happy with the fear
Every moon was new
I was searching for myself
When I found an angel
There in the clouds, I flew
Now it seems like forever
Since I said that I've never
Find a love whose aim was true
But I found that love
And I found myself in you
Now I'm ready to touch somebody
I'm ready to love someone
I'm ready to listen to my heart and let you in
I'm ready to touch somebody
I'm ready to love someone
I'm ready to finally feel something real in me
I was running off the runway
Too scared to land
There was stardust in my eyes
When I crashed into something I've never felt before (whoa)
I survived the dive
Now I'm finally alive
Cause I'm right here in your arms
And it's time that I live and its time that I give you more
Cause, I'm ready to touch somebody
I'm ready to love someone
I'm ready to listen to my heart and let you in
Now, I'm ready to touch somebody
I'm ready to love someone
I'm ready to finally feel something real in me
This was meant to be
Cause you were sent to me
And I'm ready to touch somebody
I'm ready to love someone
I'm ready to listen to my heart and let you in
I'm ready to touch somebody
I'm ready to love someone
I'm ready to finally feel something real in me
I'm ready to finally feel something real in me

I'm Ready, don´t you think? ;0)

carote em caiazzo

Não adianta, eu nunca vou me acostumar com o fato de que as mulheres aqui - inclusive as públicas - tenham aqueles cabelos ensebados só porque os lavam uma vez por semana. Quem de fato instituiu isso? Hoje entrei na direção do mestrado e a Laura estava lá, queridíssima como sempre, e eu juro que pensei que ela estava de cabelo úmido. Não, não era umidade.
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Mas, como eu prometi que não reclamaria mais, não o farei. Risos.
E esta iniciativa parece que está sendo psicologicamente eficiente, porque comecei a gostar de estar aqui, mesmo que dentro de casa enquanto não estou na universidade, fazendo compras no mercado ou pulando de um metro para um tram só para ver de perto as luminárias internas (e são lindas mesmo!)
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Passamos um delicioso final de semana juntas, onde fizemos um rodízio de pastas e claro que a culpa me consumiu esta manhã, quando a calça 38 não entrou ligeiramente. Deixarei a dieta para o próximo ano indiano. Sem problemas.
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Bento não tem culpa.E é bem melhorzinha...risos. Ok ok ok. Basta.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Jodo, ele é!

Prometo que será o último post 'reclamativo' sobre a 'superioridade' italiana.
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Ontem fomos assistir a abertura da mostra de novos talentos fotográficos na FNAC. Tadinhos...aquilo é uma Fnac ou uma Americanas? Ainda bem que o Marcelo, paulista roxo, me deu razão em dizer que a de SP é beeem maior e mais sortida, ao que eu retruquei que em PoA deve ser bem melhor também. Sim, POA tem uma Fnac maior do que esta aqui. Ok.
E a exposição? Socorro. As fotos eu não discuto, porque são realmente dignas de premiação, mas o discurso dos ganhadores? Me peguei de repente numa novela mexicana regada a lágrimas de agradecimento e um discursinho piegas.
Onde estão os cabeças pensantes daqui?
Será que se mudaram de país?
Quero pensar que estou apenas descobrindo a ponta do iceberg...
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Ontem de manhã, mais uma constatação de o quanto eu é que sou diferente. Meu café da manhã é o mesmo há décadas: pão integral, mel, yogurte com granola, café.Algumas mudanças por frutas quando o café é com leite, mas em suma, não é muito criativo, tudo bem. Mas é essencialmente saudável e nutritivo.Acho que nenhum nutricionista - no mundo todo - diria que este breakfast é ruim.
A menina chegou com uma cara de asco e disse: - Ai, mas que café estranho, porque tu comes isso? Como é que eu vou explicar, em italiano ainda, que estranho para mim é tomar aquele expresso forte que nem tinta de lula, feito numa moka ensebada e preta de tanto uso, junto com um croissant que de tão gorduroso mancha até o prato???
E eu, na minha santa paciência (os 33 servem para alguma coisa)explico que se trata de um tema cultural, pois nós, brasileiros, nos alimentamos com muita fibra e coisas naturais.Ponto.
Ah, não vou exercitar meu super italiano explicando que, para mim e o resto da medicina mundial, esquisito é comer o que ela come pela manhã.Deixarei ela com aquele ar superior europeu para o resto dos dias, tendo como piada eterna a brasileira que comia sementes de passarinho regadas com um litro de café americano pelas manhãs...
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Mas, o mundo me sorriu e eu vi, lá na prateleira de descontos, o livro de Jodorowsky que eu queria muito ler: Psicomagia. Una terapia panica. Conversazioni con Gilles Farcet. O download em espanhol é em: http://rie.cl/psicomagia/.
Estou encantada e decidi que este ano meus estudos, além dos reais, serão na vida e obra dele. Já estou baixando os três filmes essenciais de sua carreira - El Topo, Fando Y Liz e Holy Mountain, e pretendo visitá-lo na França, quando for fazer um giro cultural por lpá, no Cabaret Mystique.
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Estou me achando de novo, tomara que na próxima mudança o impacto inicial seja diverso.Risos.
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Ah, sim, certo. Nem na tv, nem em nenhum outdoor eu vi corpos morenos, jambo, escuros, amarelos, verdes e vermelhos. White é o que há por aqui.
No resumo, preconceituosos, conservadores e achados.
E chega, próximo post falaremos de amenidades.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

comida é o que há!

Bem, eis-me aqui, realizando o sonho certo no país errado.Risos.
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Uma iluminação que vem com uma depressiva constatação de que, aqui, o design morreu.
Ettore Sottsass, já morto, encerrou o capítulo mais criativo da Itália, porque hoje, nada mais aqui pode-se dizer que é criativo.
Claro que meus cidadriotas bentansos dirão que estou blasfemando, mas é que, para a colônia, qualquer coisa que venha com o 'made in Italy' estampado na bunda é bom.
Não só na colônia...infelizmente.
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Já sou fã, e agora virarei seguidora de Irene Tinaglia e Florida. Dela, primeiro, porque, como eu, diz que não volta mais para cá porque (é melhor ler os artigos dela, porque seria um post muito longo explicar tantos motivos, fundados em pesquisas sérias de anos...)a Itália virou uma nação conformista, decrépita e anti-novidades.
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Vocês acham que isso é teoria, certo?
Então ilustro com a minha estória matutina: estou á mesa, tomando café americano na minha caneca fashion guerreira de sempre (americana, claaaro!), quando a minha parceira de apartamento lasca essa: Onde você faz mercado? Ao que eu respondo: No Lidl e não no Esselunga, porque supre todas as minhas carências alimentares básicas de forma a não danificar meu bolso. Ela, horrorizada, diz que nem pensa em entrar lá porque eles vendem produtos estrangeiros (o que é verdade)e não tem muita coisa italiana e, ainda, acrescenta: - Nós, Italianos (sim, querida, eu concordo perfeitamente contigo, eu sou brasileira graças aos céus!!!), prezamos muito isso de comprar apenas produtos fabricados aqui, porque sabe como é, prezamos muito a produção nacional, que tem muito mais qualidade.
Sim, ela está certa na cabeça dela, que bonito isso, este tom nacionalista!Mas, amiga, estamos em 2009...
É por isso, porque ela, que tem 24 anos pensa assim que o presidente mais ridículo da alçada política mundial pode chamar Obama de mulato e todo mundo aceitar, é por isso que na última pesquisa, 60% dos italianos preferem ter um vizinho turco do que um vizinho gay e tantas outros absurdos globais.
Gente jovem pensando como há 20,30 anos atrás!!!
Fiquei pensando com meus botões: primeiro, que maravilha estar morando com estas gurias, porque estou imersa na língua e na cultura original. Segundo, que Irene está certa em toda a sua teoria, porque aqui, é apenas uma amostragem simples, mas estou convivendo com a própria cabeça old-fashion que ela trata tanto em sua obra.
E que eu vou deixar assim que eu puder fazer meu estágio no país número 1 em criatividade...
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Não conto qual é. Só avisarei quando a passagem estiver comprada.
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Assim será.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Devil wouldn´t recognize you, baby, yeah!

Numa terra de banguelas, quem tem os dois dentes da frente é o cara.
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Com o gato do vizinho bombando aqui em casa, fiz uns downloadzões do caramba este final de semana. Coisas novas, outras curiosas e as demais básicas.
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Minha colega de morada arrivou hoje. Nunca vi uma menina tão alegre nesta terra de tanta cara amarrada. Claro, ela é de Puglia. Sul. Simpática, amável, me senti como se uma vizinha lá de bento com a ginga de poa (isso foi para balancear!) tivesse vindo me visitar. E reclamou prá caramba do militarismo das outras duas nortistas. Ah! E trouxe duas malas de comida sulista, porque aqui, catzo, ‘nem o pão dá para fazer cocô’ . Eu traduzi a expressão assim mesmo e estranhei, mas deve ser isso. É a cara dela. Risos. Mas uma coisa ela tem em comum com as outras meninas...ela nao toma banho antes de dormir. Isso é um hábito só nosso então, mesmo.
Mas, estou feliz...Finalmente um pouco de pimenta greco-latina aqui, ôxente!
Ela foi correndo contar para a mãe: - A moça é do brasil mãe!!! E ela isso e ela aquilo. Isso que eu só falei o básico. Até porque vai ser muito difícil pra esta cabecinha em desenvolvimento (21 anos) entender dondevimpromcovô. Mas já se ofereceu para ir comigo aos points bacanas de Milão. Vou dar uma chance para ela.
Porque aqui, eu já notei uma coisa bem chata: a nossa juventude brasileira, americana até, fresca mesmo aos 35,40 não existe nestas bandas. Aqui com esta idade, você tem que estar esquentando a barriga na pia e esfriando no fogão. E se for solteira então, minhanossasenhora, tá encalhada pro resto da vida.Estou generalizando, sim, mas o grosso é isso mesmo. Não tem a geração Balonê não, onde você pode gostar de Menudos, dançar eles até cair e sair da festa sem culpas e se sentindo mais jovem do que quando eles faziam sucesso mesmo.
Essa culpa toda é culpa do Papa, só pode.
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Candy shop. E eu perdi essa. Mieeeeerrddddddaaaaaa!
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Navigli of Milan e Brera serão as próximas paradas.
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Ainda: no Brasil, você acessa todos os seus dados, de identidade, imposto de renda, banco, o escambau, pela net. Coisas federais, regionais, municipais. Aqui não. Tudo deve ser feito no local. Esta manhã ouvia uma reportagem falando que iniciaram a ‘ informatização’ de alguns serviços públicos (como cpf daqui por exemplo) a qual o repórter retruca: mas então isso vai gerar desemprego? Eu me senti no Brasil da década de 80, 90 quando isso ainda era discutido nos sindicatos...
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Estamos no primeiro mundo. Ok.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Magazzini Generali



...preciso dizer onde irei me divertir?
risos...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

lado B e o lado A !

Não queria usar de subterfúgios, mas dei o braço a torcer e comprei o mp3 que queria tanto, já que dei o meu de presente ao querido PH. Era o empurrão para que o sol começasse a esquentar este corpitcho - além do astro rei que finalmente apareceu para aumentar a vontade de sair de casa. E lá fui eu no metrozão, cruzando a cidade subterrânea, acompanhada por tiesto, jorge aragão, alice russel e nina simone (sim, eu sou ‘ecrética’) feliz da vida. Só cuidava de não demonstrar muito a minha alegria porque poderia ser mal-interpretada neste país de gente mal-humorada de nascença. Uma droga muito benéfica, esta musical...
E, de repente, tudo mudou.
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Tive hoje um dia CC (colorido cultureba) com meu novo amigo Jo, que como eu, ama São Paulo, o Brasil, a América Latina, budismo, design, arte, natureza e fotografia. Mais um gêmeo solto no mundão, senhorita Viajante! Conheci com ele o lado A daqui e tenho o prazer de confessar que eu estava um pouco enganada sobre as cores desta cidade. Não mudam alguns conceitos, mas ela ficou mais rosa, mais verde e mais azul celeste num estilo bandeira peruana, ou GLS, como quiser. Andamos por todo o quadrado entre a estação Moscova e Garibaldi, o que é uma caminhada deliciosa para todos os sentidos, principalmente os da visão.
Tomamos um capuccino com brioche de creme no famoso Rick’s (aqui não se toma capuccino após o almoço, é como o nosso café pingado com cacetinho e manteiga) e rumamos para a Chinatown milanesa, lá na Via Sarpi. Tudo baratim, mais ou menos como estar na 25 de Março ou no centrão de PoA. Entramos em TODOS os mercadinhos, sem exceção. Ai! Como eu quero ter 7 vidas ainda, porque eu necessito fazer um curso de gastronomia Chinesa! Guatemalteca! Hondurenha! Tantos aromas, tantas caixas de condimentos sem tradução! E eu queria trazer todos para casa, abrir cada um e ficar preparando pratos pela eternidade! Almoçamos um bel pranzo (fui no risoto de frutos do mar, guarnecido por uma salada mista deliciosa - servem numa espécie de pão crocante), numa ‘padoca’ que tem até pão de queijo, e continuamos a nossa jornada, agora para que eu conhecesse as lojas de design, de arte contemporânea (pôsters enormes de Roy, Warhol, Pollock por 13 euros!), cafés bacanérrimos (um americano e um macchiato por apenas 1,60? ), livrarias, exposições...e uma loja que é um must: 10 corso como café, de uma ex-editora da Vogue.
Esta dá nos dedos de todo o corpo da dona daslu em seu apogeu, pelo simples fato de que lá eu posso entrar sem ser visada de cima a baixo com aquele olhar de paty chata e porque é nesta loja que são lançadas as tendências que vão encher as prateleiras das próximas estações ao redor do mundo. Do planeta, darling! É aqui que são feitos os laboratórios (e muitas vendas) das marcas mais bacanas do mundinho fashion. Detalhe: no andar de cima uma puta livraria só sobre design, moda e arte correlata, além de exposições constantes de fotografia. Ah, e claro: um café fofinho, com mantas nas cadeiras para você se enrolar nas noites frias e árvores, muitas árvores, onde pássaros (bem-alimentados pelo visto) gorjeiam sem parar. Que bucólico!
Me encontrei. Antes de encontrar outro local como esse (porque ele jurou que tem), é aqui que eu quero vir mais algumas vezes, só para me sentir em casa de novo. Tá bem, estou exagerando um pouco, mas quem me conhece sabe que é só disso que eu preciso ás vezes para estar no meu centro, recarregando as baterias: sentir-me no meu mundo particular que é repleto de sons, cores, aromas e devaneios entre livros, cafés, design e canto de passarinhos. Sozinha, de preferência, que é para que eu possa cantar a minha música interna sem ser interrompida...
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Caminhamos...caminhamos...e o melhor, ficou para o fim. Nada é por acaso.
Li muitos livros da Bel Cesar, mãe do Lama Michel Rinpoche, cuja sangha é aqui e...que Jo frequenta. Quando ele me contou, não pude conter a emoção, pois acompanhei a trajetória deste menino (hoje tem 27 anos) pela leituras das obras da mãe dele e sempre fui muito curiosa em um dia, estar no local onde ele ensina, saber um pouco mais...enfim. De repente, sem eu pedir, isso se materializou através de um novo amigo, no outro lado do mundo. Irei junto com ele na próxima semana, para conhecer o local (hoje estava fechado)e quem sabe, retomar agora de forma mais plena de atenção esta filosofia de vida que tanto me ajudou a quebrar barreiras e a compreender a mim mesma.
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Sim. Eu estava reclamando feito gringa chorona, tendo pitis um atrás do outro, hora porque nevava, hora porque a Dharma não estava aqui, hora porque estava longe de meus amores e da minha terra. O coração continua apertado, mas a nuvem cinza está se dissipando, porque é só abrir um pouco mais os olhos - e o coração - para acolher pessoas e sensações que podem mudar, não só o nosso modo de viver numa cidade que nos é estranha, mas talvez o rumo de nossas vidas. A gente nuca sabe o que virá...risos.
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Parece que o pior já passou. E se existe um comandante universal, que antes olhou para baixo e disse: - Fia, te fode!, agora ele está dizendo: - Fia, vai lá que tu pode!
Acho que sou uma mulher de sorte mesmo.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

cadê a xoxola?

Então vai ser assim, quando eu não quiser mais coçar, eu escreverei.
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Acabo de voltar da universidade, onde parece que ninguém tem boa vontade para dar informações precisas ou realmente não sabe. Fico com a última opção, porque estamos na Itália. Óbvio.
Estranho falar assim, mas cada dia desidealizo mais este primo mondo daqui. Pode ser que o primo do norte mais gelado ainda seja melhorzinho, mas aqui, minha nega, as coisas são iguaizinhas ao meu país, leia-se Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. (pode atirar pedra no meu telhado se você,caro leitor, pertencer a outro estado deste brazilzão). A diferença é que aqui faz um puta frio mesmo, neva de verdade e tem mais chinês que na China. Eu sempre digo pro meu pessoal que fica louco quando eu começo a chorar as pitangas: uma coisa é você estar aqui para colocar a bunda num buzum, olhar a Duomo de dentro duma calefação quentinha e seca e deixar ela de noite numa cama de hotel e logo mais inserir ela num assento de avião rumo a uns 28 graus na sombra. A outra é ter que esperar trinta e quatro minutos por um buzum embaixo da neve, cuidando para que aquela tonelada de gelo seco pendurada na árvore não caia na sua cabeça e, ao chegar no destino (após aquelas baforadas de cecê no metrô imundo) encontrar meia dúzia de gatos pingados que não sabem dondevimproncovô. Êta italianada estranha, sô.
E no fundo eu me divirto...risos.
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Eles são tão modernos que não possuem a @ no teclado. Ou nós é que somos tão imbecis que temos que tê-la mastigadinha?
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Fiz minha tessera ATM para viajar sem fronteiras, dentro de Milano, claro. E fiquei espantada com a falta de burrocracia! Eu fiz xerox do passaporte, do codice fiscale, do comprovante de endereço e ainda levei os originais. A mulher (ensebada e mau-humorada, claro) nem tchuns. Preenchi um questionário, assinei, colei a minha foto 3x4 e era isso. Cacete! Porque eu não coloquei a data de nascimento dez anos depois? Se não precisava comprovar nada, eu teria direito a andatas e ritornos por apenas 9,80 e não 30. Jeitinho brazuca em ação!
*
“Em outros lugares me compreendem melhor no sentido em que aceitam... quer dizer, há muitos malentendidos também, mas não no sentido da incompreensão. Em toda parte a disponibilidade é muito maior, não existe esta espécie de muro, de bloqueio, de resistência, e mesmo este preconceito desfavorável, que vem crescendo no decorrer do tempo. Pois aqui não era assim antes, agora isso toma uma forma...não quero ser paranóico, mas há de todo modo uma forma de cristalização, de conjuração, sobretudo nos últimos tempos... Nos outros países as coisas não se passam assim porque ninguém participa desta espécie de atmosfera de moralização intelectual daqui, e desta hipocrisia. Quer dizer, não se trata de uma grande hipocrisia, mas de um cinismo ordinário, racismo ou fascismo comum. A hipocrisia aqui não tem o sentido da duplicidade ou da libertinagem, porque se fosse isso seria ótimo…”. Palavras do finado Baudrillard sobre a França. 1997 e não 2009, capisce?
Cristalização. Falei exatamente esta palavra ao Deives quando estávamos viajando por estes pagos. Quem vem de fora, arejado e quase pueril, sente esta atmosfera de naftalina, de sorrisos amarelos. É algo que é, e está faz tempo já. A mesma coisa me falou PB, sobre a Itália, Espanha e França estarem vivendo um momento ávido de criatividade e inovação tupiniquins. Enfim, aqui estamos nós!
*
Ainda citando mestre Jean B.: (...)’Cioran dizia que muitos sacrificam a existência pela sua biografia… Eu não pretendo sacrificar a minha…”
Idem.
*
E como avisou Beth Carvalho: Preste atenção querida, o mundo é um moinho!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Guerreira!



Está aí a minha linda e fofa Dharma!
Saudades de ti minha filhota peluda...
Te pego ou volto para ti em breve!

trezentos e poucos!

Descobri Alice Russel, uebaaa!
*
Um menos ou mais trezentos e sessenta e quatro dias?
‘ Com o hábito é que vem o apreço:
Assim recusa o mátrio leite
A criancinha, no começo,
Porém, chupa-o em breve com deleite.
Eis como o seio da sapiência,
Aguçará vossa apetência.’
(Mefisófeles, em Fausto de Goethe)
Amém!
*
Eu tenho sorte, porque tenho um amante ao qual voltarei quando quiser e ele me receberá de braços abertos como se este espaço de tempo fosse apenas de uma fração de segundo. Porque ele sabe que eu nunca o traí e nunca o farei, e que meu amor por ele é incondicional e eterno. O nome dele?
...
...
...
Brasil.
*
Eis-me aqui, dez menos zero, vinte e dois aqui dentro, dezesseis da tarde. O mundo lá fora está todo branco e cinza, não há cores, e é isso que eu sinto falta, além de tantas outras coisas. O bom, se é que assim posso dizer, é que faltam-me sensações, não coisas materiais nem concretas: passei no teste, consegui um apartamento ótimo para morar, tenho grana suficiente para me dedicar somente aos estudos e por aí vai. Ponto. Mas a falta é outra: é da sensação de vento quente no rosto, de calor morno que deixa a pele pegajosa, cheiro de mar, de sundown, de caipa de morango, de comida de casa, de salada de fruta do Mercado, do pelo da Dharma em todas as roupas, do cheiro do asfalto quente na Ipiranga, da panqueca do Ritrovo na Lima. Dos meus.
*
Mas não se pode evitar a vida.
*
Tento não viajar no pensamento para muito longe nestes dias, pois quando isso acontece eu fico para lá de sentimental e os olhos começam a marejar. Embora me dê o direito de chorar de vez em quando, pois eu sou coração e sentir-me assim neste momento, porra, é normal, as lágrimas doloridas devem correr agora, porque depois serão as de felicidade. O que faz com que elas parem é a sensação de que esta é uma linda experiência, apesar do coração apertado e do frio. Um momento raro da minha vida, de um ano sabático tão sonhado e planejado onde o chato mesmo é ele ter começado num inverno. Vivi muitos invernos, porém nunca um tão a menos zero grau, pois sempre havia uma mão que não era a minha por perto e um cobertor quente me esperando...Mas ok, até isso tem seu simbolismo, no justo ano que sou regida por Deméter, a Imperatriz.
É. Disse Crowley: ‘ Você está diante de um ano fértil, e os próximos meses estarão sob signo das transformações criativas e chances favoráveis de crescimento. Então prepare bem seu terreno, para que você possa fazer uma colheita farta no final. O momento é favorável para começos promissores, nos quais o que importa é se expressar mais e utilizar melhor as suas capacidades, devendo abrir-se a impulsos estimulantes e fecundantes, os quais tornarão a sua vida mais rica e mais bela. Inclusive, algo que você vem "gerando" dentro de si há muito tempo agora pode se concretizar e lhe proporcionar uma nova realização. Em resumo, tenha confiança na força auxiliadora e curativa da Natureza.’
Bem, de forma poética sinto então, que os campos neste momento acham-se em processo de hibernação e que em breve os primeiros raios de sol vão começar a aquecer e germinar as sementes para que elas logo mais se transformem em frondosas árvores...Há milênios este é o processo. Interessante então estar aqui agora, vejo que na verdade eu nunca vivenciei o processo natural da vida, em vida, de forma tão consciente, crua e seca. Nunca tive o peso do gelo a limitar meus passos e a me confinar num espaço totalmente só. Nestes momentos, eu só posso contar comigo, neste grande armário que sou (prefiro despensa!) com tantas prateleiras, gavetas e gavetões e eventualmente uma internet para uma conexão com o mundo de lá. Há livros, manuais, fotografias e saberes diversos acumulados dentre deste móvel...basta que eu os acesse. E tenho feito downloads bons também, como meus sambistas preferidos (achei Renúncia, com Nelson Gonçalves e Tim Maia, maravilhosa!!!), meus livros de mitologia, minhas leituras do sempre.
Oras bolas, chega de xororô! Eu fui talhada para este inverno. Que sim, é meio down ás vezes, meio triste quando recordo dos amores que ficaram, mas é o meu sonho, só eu posso realizá-lo e se tem que ser assim no início, assim será. Já sobrevivi a coisas piores, sem nenhuma luz no fim do túnel. Aqui ao menos eu tenho a luz, o túnel e um trem freccia rossa com lugares na primeira classe a minha disposição. E como dizia Jorge: “Meu amor não estamos sós. Há um mundo esperando por nós.” Se eu passar por este inverno sã e salva, sem body-guard, minha fia, sai da frente que eu vou arrasar!
*
Algo é retirado para que uma outra coisa possa se desenvolver em seu lugar.
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Deixei a inércia de lado e fui a uma festa de final de ano com brasileiros, que por ser assim, já me foi deliciosa e alegre. Uma orgia gastronômica de colocar qualquer buffet italiano no chinelo mais o bônus de ter o aconchego de dois anfitrões queridos e atenciosos. E, como uma boa mariposa, analisei cuidadosamente o perfil de cada convidado presente e os classificaria como clichês, com o maior respeito, obviamente. As mesmas pessoas que condenam a forma como os europeus os qualificam atuam (inconscientemente, diria...) exatamente como são ‘carimbados’. Os estereótipos estavam todos lá, pulsantes.. Não julgo, não acho ruim, cada um no seu quadrado como diz a Flor, mas é a realidade.
Não é porque eu sou brazuca que devo enrolar uma bandeira verde-amarela no pescoço como se fosse um cachecol ou entupir os ouvidos com Calcinha Preta, cantar junto (e gostar) das (sic) bem-escritas letras das músicas de Ivete Sangalo e de requebrar como uma louca na boquinha da garrafa de prosecco até cair a peruca. O meu Brasil, me desculpem, é outro. Nem melhor nem pior que este aí de cima, apenas diferente porque ele fala um português mais correto, é mais educado, mais culto, mais contido (sem ser anti-social) e porque está mais para um Tango do que uma Lambada. E tem um ouvido musical um pouquito más apurado, digamos.
O que eu posso fazer se até no meu, no nosso Brasil, há diferenças enormes, no melhor estilo Sicília-Milano? Assumir minha dupla-cidadania e a minha origem sulista com unhas e dentes e gritar Catzooo!!!
*
Vamos falar de coisas banais então, começando com o que eu gosto e o que eu não gosto aqui:
Gosto da ligação entre Buzum+Tram/Metro+Trem, que significa estar em qualquer lugar da Europa numa hora, sem planejar horrores, o que é a minha cara. Dos mercados com as deliciosas oções de queijos, pães, pratos prontos e massas. Da limpeza das ruas e cuidado dos parques nas pequenas comunes, como o caso de Segrate, porque Milão já virou um mix de POA com a bagunça de Sampa. Das tarifas baixas de celular e navegação, bem como dos combos de note+net+celular. Da calefação que realmente funciona. Dos estrangeiros moreninhos (liiindos!). Não gosto da falta de higiene do pessoal - cecê do capeta, cabelo oleoso, hálito de alho, cheiro de peixe (espero que seja) das pessoas, unhas sujas das mulheres (européias) no transporte e nos serviços públicos. Sério, ou não tomam banho ou não usam desodorante ou os dois juntos, éca! Da burrocracia burróide e cheia de papéis em todos os órgãos públicos. Da televisão aberta cheia de mulheres peitudas anencéfalas que repetem a mesma notícia três vezes ao dia (bem, pelo menos não há canal evangélico por aqui, ainda). Do Berlusconi com seu cabelo pintado e sorriso Colgate fake. Do preconceito contra quem não faz parte da comuna Eurótica. De ganhar em reais e comprar em euros. Do idioma. Da cafonice feminina.
Só para avisar: descobri que a Itália não é a Europa. Huhuhuh!
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Não foi por acaso que antes de dormir, li a seguinte frase de Paracelso, no livro Mitos Modernos: “ O que é, então, felicidade senão concordância com a ordem natural através do conhecimento da natureza? E o que é infelicidade senão oposição à ordem natural? O que anda na luz não é infeliz, nem é infeliz o que anda nas trevas. Ambos estão certos. Ambos agem corretamente, cada qual em seu próprio caminho. O que não se deixa abater é o que obedece à ordem. Mas o que se deixa abater é o que desobedeceu.” Ao que Jung comenta: “ Às vezes a obediência à ordem da natureza pode estar além dos recursos de uma pessoa. Existem solidão, isolamento e desespero extremos — representados no confronto de Inanna com Eresquigal — que, caso a pessoa não possua um ego forte para contê-los, podem acabar se tornando insuportáveis”. Bem, espero que meu ego tenha sido bem arreiado nestes últimos anos de análise e de confronto com a Sombra. Saudades da Luciana!!! Risos...
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Sábado, dia de saldi na Montenapoleone (em toda Itália). Perfeito se eu tivesse uns milzinhos para gastar assim no mais, porque aqui os descontos são bem reais. Ops. Mas o melhor foi entrar num café só para uma aquecidinha básica e dar de cara com um balcão com pizza quentinha ‘de grátis’. Para não ser tão cara-de-pau (a italianada é!) tomei um americano por 1$ e almocei tranquilona. Depois conheci finalmente o Castelo Sforzesco e a Galeria Vitorio Emanuelle. Sim, tudo é bacana, histórico e etc, mas eu não sei...faz um tempo já que velharia não me diz muita coisa. Respeito, óbvio, pois sou cultureba, mas não é o tipo de turismo que eu gosto de fazer. A natureza me comove muito mais!
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Não, definitivamente é impossibile assistir os seriados americanos que eu adoro dublados em italiano.
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E para o tédio, nada melhor do que escrever em português.
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Hoje, menos 6 ainda. Amanhã quem sabe o score muda.